Em meio as minhas leituras e pesquisas encontrei um belo texto de José Finocchio Jr. Um dos mais renomados Gerentes de Projetos do Brasil que escreveu uma carta aberta propondo mudanças nas formas com que o governo brasileiro tem gerenciado os seus projetos, principalmente no que diz respeito a COPA FIFA BRAZIL 2014 depois de tantos problemas vivenciados pela comunidade mundial.
Se você, assim como eu, é ou está em fase de se tornar um Gerente de Projetos, também deve estar, de certa forma, envergonhado e sentindo o peso dos erros cometidos, por pessoas despreparadas para gerir projetos, na preparação e execução da Copa do Mundo no Brasil.
Segue abaixo a Carta Aberta na Íntegra retirada originalmente de https://www.linkedin.com/today/post/article/20140612132541-6476198-carta-para-comunidade-internacional-de-gerenciamento-de-projetos.
LEIAM, REPASSEM, REPENSEM!!
Carta para Comunidade Internacional de Gerenciamento de Projetos
Somos Brasileiros e somos Gerentes de Projetos. Pertencemos a uma comunidade ampla que hoje possui centenas de milhares de profissionais que atuam no país prestando serviços reconhecidos e de altíssima qualidade. Somos bem formados, capacitados, certificados internacionalmente, experientes, aguerridos, apaixonados por nosso trabalho e buscamos ser muito competentes.
A exposição mundial de uma série de problemas nacionais, com especial destaque para a má gestão de projetos públicos, catapultada pela Copa FIFA BRAZIL 2014, não apenas revelou a ponta de um iceberg dos massivos problemas crônicos governamentais, como também emprestou a todos os profissionais gestores brasileiros uma imerecida pecha de incompetência.
Para conduzir o programa da Copa FIFA BRAZIL 2014 o governo federal nomeou políticos aliados e renomados futebolistas os quais, em sua maioria, não dispunham do conhecimento necessário em administração geral e/ou em gestão de projetos. Critérios políticos, e não técnicos, aparentemente pautaram essa decisão, sem que sequer se houvesse cogitado a estruturação de Escritórios de Gerenciamento de Projetos adequados que reunissem profissionais capacitados e que pudessem orientá-los tecnicamente. A ampla comunidade de profissionais de gerenciamento de projetos brasileira não foi ouvida, quanto menos aproveitada em tais projetos. Os resultados foram, reconhecidamente, catastróficos em termos de atrasos, estouro dos orçamentos, ajustes de escopo e denúncias de falta de lisura na administração dos contratos, em que pese a reação contrária do governo, compulsivamente negando a gravidade da situação, apostando cegamente que a “pátria de chuteiras” logo esquecerá os problemas vivenciados desde que a seleção canarinho chegue à grande final e conquiste a taça do mundo.
Causa-nos vergonha e frustração constatar a nociva e irresponsável ineficiência com que são administrados grande parte dos projetos públicos no país (salvo raras e honrosas exceções). Esta circunstância profundamente vexatória golpeia fundo nosso orgulho profissional e posterga, novamente, o sonho brasileiro de acesso a uma vida plena de oportunidades, à altura do potencial de nosso território e de nosso capital humano.
Fiados nessas considerações é que lançamos este manifesto, com vistas a redirecionar os meios e modos da gestão dos projetos públicos no país na sincera esperança de que, com isso, fomentemos uma melhoria em seus resultados, pautados por boas práticas de gestão, princípios éticos, democráticos e de cidadania.
Assinamos esta carta apontando 10 (dez) mudanças que consideramos necessárias e urgentes:
1) Pela ética na condução dos projetos públicos nas três instâncias governamentais (municipal, estadual e federal), de modo que sejam idealizados, propostos e executados sob o primado do interesse social, e em detrimento dos interesses obscuros de grupos restritos que possam influenciar o poder público e as empresas privadas.
2) Que os projetos públicos nas três instâncias (municipal, estadual e federal) estejam sempre respaldados por um planejamento estratégico, obrigatório e legal, e que visem exclusivamente o desenvolvimento social, econômico e humano do país, bem como que neles sejam priorizadas a educação, saúde, segurança e a infraestrutura essencial. Assim, programas tais como o da Copa FIFA BRAZIL 2014 deverão passar a estar em harmonia com as diretrizes estratégicas existentes ou, do contrário, simplesmente não serão cogitados e nem realizados.
3) Que a autorização dos projetos públicos esteja embasada em alicerces (‘business cases’) sólidos e críveis e não em estudos fictícios e forjados que exageram na demonstração da viabilidade, mas ocultam os reais objetivos escusos e/ou políticos partidários que o motivaram.
4) Que gestores de projetos profissionais sejam nomeados para estarem à frente dos portfólios de projetos públicos nas três instâncias (municipal, estadual e federal) sem a interferência da política partidária na condução ética de seu trabalho técnico.
5) Que todos os interessados (stakeholders) sejam ouvidos e comunicados de modo direto e transparente, desde o instante da avaliação dos grandes projetos e de suas justificativas, passando pela autorização de sua realização, pela notificação adequada e periódica de seu desempenho, pelo esclarecimento sobre mudanças de escopo e de linhas de base (escopo, prazo e custo) e pelo relato técnico e independente dos resultados finais alcançados.
6) Que ações corretivas sejam anunciadas e encaminhadas, cessando a política das boas desculpas, da negação dos problemas e dos “bodes expiatórios”.
7) Que os grandes projetos públicos sejam auditados de forma isenta, independente e transparente pelo TCU através de equipes que disponham de profissionais certificados em gestão de projetos.
8) Que seja aprimorada, em nome da celeridade e da eficiência, a lei das licitações para os grandes projetos públicos, contemplando a introdução de requisitos relacionados às boas práticas de gestão de projetos pelas partes contratadas e não se restringindo apenas aos aspectos do processo licitatório. Que essa lei seja aplicada com rigor em defesa dos reais interesses da sociedade.
9) Que passe a vigorar uma política rígida de consequências que exclua das concorrências públicas as empresas envolvidas em irregularidades. Que os profissionais de gerenciamento de projetos envolvidos em corrupção percam seus credenciamentos profissionais, que políticos envolvidos na corrupção percam seus direitos políticos e que ambos sejam responsabilizados criminal e civilmente pelos prejuízos causados para a sociedade.
10) Que existam mecanismos de governança que garantam que o portfólio de projetos públicos não seja mais usado como instrumento de manipulação eleitoral mas sim na geração efetiva de benefícios e de valor real para a sociedade brasileira.
Assinam esta carta,
Alonso Mazini Soler,
André Baptista Barcauí,
Américo Pinto,
Carlos Magno da Silva Xavier,
Carlos Eduardo Freire Gurgel,
Fabiana Bigão Silva,
Farhad Abdollahyan,
José Finocchio Jr.,
Luiz Fernando da Silva Xavier,
Mauro Afonso Sotille,
Osmar Zózimo de Souza Jr.,
Paulo Keglevich.
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